Na carcinicultura moderna, o sucesso produtivo é uma soma de variáveis bem controladas. Dentre elas, fatores ambientais e biológicos se destacam. Produtores experientes frequentemente observam o céu antes de tomar decisões cruciais de manejo, como o povoamento e a despesca. A sincronia entre a muda do camarão e as fases da lua não é folclore; é um fator biológico determinante que impacta diretamente a sobrevivência, o ganho de peso e a qualidade do produto final.
Compreender e aplicar esse conhecimento é uma estratégia de manejo avançada, capaz de reduzir mortalidades e otimizar a rentabilidade do ciclo produtivo. Este artigo detalha a ciência por trás dessa relação e como usá-la a favor da fazenda.
O camarão, como outros crustáceos, possui um exoesqueleto rígido (cutícula) que limita seu crescimento. Para crescer, ele precisa periodicamente descartar esse exoesqueleto e formar um novo. Esse processo é conhecido como ecdise ou, popularmente, “muda”.
A muda é o momento mais vulnerável na vida do animal. Durante este período, que pode ser dividido em pré-muda, muda e pós-muda, o camarão passa por intenso estresse fisiológico.
Qualquer falha neste processo, seja por má qualidade da água (como baixa alcalinidade) ou manejo inadequado, resulta em mortalidade elevada.
A influência lunar sobre os organismos aquáticos está bem documentada. A atração gravitacional da lua (e, em menor grau, do sol) rege as marés. As marés mais intensas, conhecidas como marés de sizígia (ou águas vivas), ocorrem durante a lua nova e a lua cheia, quando sol, terra e lua estão alinhados.
Estudos e observações de campo indicam fortemente que o ciclo de muda dos camarões é sincronizado com o ciclo lunar. Ainda debatemos o gatilho exato (seja a pressão hidrostática, a luminosidade ou as próprias marés), mas o padrão é claro: os picos de muda do Litopenaeus vannamei tendem a se concentrar nos períodos de lua nova e lua cheia.
Essa sincronização é uma estratégia de sobrevivência. Ao mudarem en masse, os camarões reduzem estatisticamente a chance individual de serem predados enquanto estão vulneráveis (efeito de diluição).
O povoamento, ou seja, a transferência das pós-larvas (PLs) do laboratório para os viveiros de engorda, é uma das operações mais estressantes do ciclo. As PLs são transportadas, aclimatadas e introduzidas em um ambiente completamente novo.
Então, considerando que a muda do camarão e as fases da lua estão conectadas, realizar o povoamento próximo aos picos de ecdise (lua nova ou cheia) é uma prática de alto risco. As PLs, já estressadas pelo transporte, podem ser forçadas a mudar de casca em condições subótimas, sem estarem totalmente adaptadas ao novo ambiente, resultando em altas taxas de mortalidade inicial.
Recomendação Estratégica: O ideal é programar o povoamento durante os períodos de maré de quadratura (águas mortas), que ocorrem nas fases de quarto crescente e quarto minguante. Nesses períodos, a maioria da população de camarões (incluindo as PLs) estará no estágio de intermuda, com o exoesqueleto rígido, mais resistentes ao manejo e ao estresse da aclimatação.
O momento da despesca é igualmente, ou talvez mais, influenciado pelo ciclo lunar. Realizar uma despesca durante um pico de muda (lua nova ou cheia) é prejudicial por múltiplas razões:
Recomendação Estratégica: A despesca deve ser programada para evitar os picos de muda. Os momentos ideais são, novamente, durante as quadraturas (quarto crescente ou minguante), ou nos dias que antecedem a lua cheia ou nova. Nesses períodos, os camarões estarão com a casca dura, trato digestivo cheio (se o manejo alimentar estiver correto) e no seu peso máximo antes do próximo ciclo de ecdise.
Gerenciar essas variáveis “no olho” ou apenas com um calendário de parede é complexo e sujeito a erros. A relação entre a muda do camarão e as fases da lua é um dado que precisa ser integrado a todas as outras métricas da fazenda.
É aqui que um software de gestão aquícola, como o Despesca, se torna um diferencial competitivo. A plataforma permite ao produtor:
Em suma, alinhar as operações de povoamento e despesca com o ciclo lunar não é uma superstição, mas uma técnica de manejo zootécnico avançada. Ignorar a relação entre a muda do camarão e as fases da lua significa arriscar a sobrevivência das PLs e a qualidade final da biomassa colhida.
Ao utilizar ferramentas modernas de gestão, como o Despesca, o produtor transforma esse conhecimento tradicional em dados acionáveis, aumentando a previsibilidade, reduzindo perdas e maximizando a eficiência econômica de cada ciclo produtivo.