A jornada do pescado, desde a fazenda até a mesa do consumidor, envolve múltiplas etapas e intermediários. Essa complexidade na cadeia de suprimentos pode gerar desconfiança, dificultar a identificação da origem de problemas sanitários e abrir brechas para fraudes, como a substituição de espécies ou a venda de produtos de cativeiro como se fossem selvagens. O blockchain oferece uma solução robusta para esses desafios, criando um registro digital permanente e à prova de violações de cada etapa do processo produtivo e logístico.
De forma simplificada, blockchain é um livro-razão digital, distribuído e imutável. Cada “bloco” da cadeia contém um conjunto de transações e, uma vez adicionado, não pode ser alterado ou removido. Na aquicultura, cada evento na vida do animal – desde a origem das pós-larvas ou alevinos, o tipo de ração utilizada, os manejos sanitários, as medições de parâmetros da água, até o processamento, transporte e venda – pode ser registrado como uma transação em um bloco.
Essa cadeia de informações é compartilhada entre todos os participantes autorizados da cadeia de suprimentos (produtores, processadores, distribuidores, varejistas e até mesmo o consumidor final). A criptografia garante a segurança e a autenticidade dos dados, criando uma fonte única e confiável da verdade sobre a história daquele produto.
A implementação de um sistema de rastreabilidade baseado em blockchain transcende a simples conformidade com normas, tornando-se um poderoso diferencial de mercado.
1. Confiança e Transparência para o Consumidor: Ao escanear um simples QR Code na embalagem, o consumidor pode ter acesso a todo o histórico do produto. Informações sobre a fazenda, as práticas de cultivo sustentáveis, o uso responsável de insumos e a data de despesca criam uma conexão direta e transparente, fortalecendo a confiança na marca e justificando um preço premium.
2. Segurança Alimentar Aprimorada: Em caso de qualquer evento adverso, como uma contaminação, a tecnologia permite identificar a origem exata do problema de forma rápida e precisa. Isso possibilita recalls direcionados e eficientes, minimizando prejuízos financeiros e protegendo a saúde pública e a reputação da empresa.
3. Combate à Fraude e à Pesca Ilegal (IUU): O registro imutável garante a autenticidade do produto. Torna-se virtualmente impossível comercializar uma espécie por outra ou introduzir produtos de origem ilegal ou não declarada na cadeia de suprimentos, assegurando que o consumidor receba exatamente o que comprou e protegendo os produtores que seguem as boas práticas.
4. Acesso a Mercados Exigentes e Certificações: Mercados internacionais, especialmente na Europa, América do Norte e Ásia, possuem barreiras regulatórias e sanitárias rigorosas. A rastreabilidade via blockchain serve como uma prova documental robusta do cumprimento dessas exigências, além de facilitar a obtenção e manutenção de selos e certificações de qualidade e sustentabilidade, como ASC (Aquaculture Stewardship Council) e BAP (Best Aquaculture Practices).
5. Otimização da Gestão e Eficiência Operacional: A digitalização dos registros ao longo da cadeia logística melhora a comunicação entre os elos, otimiza o controle de estoque, reduz desperdícios e fornece dados valiosos para a tomada de decisões estratégicas, resultando em maior eficiência e redução de custos operacionais.
A eficácia de um sistema blockchain depende diretamente da qualidade e da integridade dos dados inseridos. É aqui que a utilização de um software de gestão aquícola, como o Despesca, se torna um pré-requisito indispensável.
Antes de pensar em implementar blockchain, o produtor precisa ter um sistema robusto para coletar e organizar as informações da fazenda de maneira padronizada e confiável. O Despesca centraliza todos os dados cruciais do ciclo produtivo: biometrias, consumo de ração, parâmetros de qualidade da água, ocorrências sanitárias, controle de estoque de insumos e custos.
Essa organização prévia dos dados é a fundação sobre a qual a rastreabilidade em blockchain será construída. Um sistema de gestão eficiente garante que as informações inseridas na cadeia de blocos sejam precisas e verificáveis, tornando todo o processo confiável. O Despesca atua como o ponto de partida, a fonte primária de dados que alimentarão o registro imutável, preparando a fazenda para o futuro da transparência na aquicultura.
Em suma, a tecnologia blockchain não é mais uma promessa distante, mas uma realidade que está moldando o futuro da produção de alimentos. Para o aquicultor, adotá-la, começando pela organização de dados com um sistema de gestão como o Despesca, é um passo estratégico para garantir a competitividade, agregar valor ao seu produto e atender às demandas de um consumidor cada vez mais consciente e exigente.